Menos

As vidas passadas
Talvez tenham tido
Grandes madrugadas
Com maior sentido
Do que os nossos nadas.


Mas em nós saltita
Seco, o coração,
Esponja maldita
A se inflar num vão
Onde ninguém fita.


A pular vermelha,
A encolher-se langue,
Suja bomba velha
Bêbada de sangue
Que só o nada espelha.


Que se estique e encolha
Até a hora em que estoure,
Ridícula bolha
Sem um só que a chore,
Sem quem a recolha.


E então tombe gorda
Dentro de si mesma,
Brinquedo sem corda,
Ressecada lesma
Que já nada acorda.


E ali, sem mais ânsia,
Imprestável odre,
Suma-se à distância,
Sem a dança podre
Que fez desde a infância.


Mas de ao menos nós
Que o sofremos tanto,
Que ele deixe após
Tanto pranto e espanto
Viva a nossa voz.

Sem comentários:

Enviar um comentário